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psi1.gif (3050 bytes)   globe4.gif (9321 bytes)Nline.gif (2767 bytes)http://www.priory.com/psych/barrabr.gif (6828 bytes)Psychiatry On-line Brazil - Current Issues (3) 04 1998

 

A Internet como fonte de atualização

(Internet as a tool for updating)

José Knoplich *

* Doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e Editor da Revista de Atualização Médica - RAM e   Intramed: Intranet na Medicina

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A atualização dos conhecimentos sempre foi um objetivo almejado pelos médicos. A aquisição de novos conhecimentos sempre foi realizada de forma diferente pelos professores universitários e pela totalidade dos médicos que estão na prática diária. Os primeiros têm essa atualização como obrigatória, já que dão aulas, fazem pesquisas e orientam teses, necessitando dos conceitos mais atuais de cada especialidade. Os médicos que atendem pelos convênios em seus consultórios, longe dos hospitais-escola, têm enormes dificuldades de obter essas informações, sem bibliotecas e com as limitações da aplicação prática desses progressos aprendidos.

Os integrantes da carreira acadêmica devem selecionar o que lêem, por falta de tempo. O "Index Medicus" - "Medline" já fez uma seleção das 3800 publicações periódicas de todo o mundo, mais confiáveis e por especialidade. Mesmo entre essas podem-se escolher as mais importantes pelo índice de citação.

Acontece que alguns pesquisadores publicam trabalhos relacionados a pesquisa (epidemiologia, pesquisa com medicamentos novos, etc) nos quatro periódicos semanais de maior circulação - JAMA, The Lancet, British Medical Journal e o New England Medicine Journal - porque querem maior divulgação para suas pesquisas. O professor J.A. Kanis, que esteve recentemnte no Brasil, publica seus trabalhos sobre osteoporose no BMJ e não nas revistas especializadas da área.

Assim, estamos diante de um incrível paradoxo. Se todos os professores de reumatologia lessem somente as 14 melhores revistas indexadas internacionais da área de reumatologia, não estariam totalmente atualizados, pois deixariam de ler pelo menos esses quatros periódicos semanais e mais as revistas especializadas afins, como imunologia, ortopedia, neurologia, medicina física, reabilitação, etc. O que ler e a confiabilidade das publicações, os acadêmicos sabem identificar com facilidade.

Pode-se, pois, configurar que essa atualização difícil para os acadêmicos se completa com a freqüência aos congressos da especialidade. Imaginem-se as dificuldades para o médico que vive na periferia das grandes cidades e nas de médio porte, que só podem fazer a atualização médica através do propagandista e só lêem o que o laboratório manda.

Foi o epidemiologista inglês Archie Cochrane (1909-1988) que, num livro publicado em 1972, desafiava a comunidade acadêmica a tentar atualizar os conceitos das doenças e tratamentos para a grande maioria dos médicos afastados das faculdades. Somente em 1992 foi iniciada na Inglaterra a aplicação prática dessa idéia, que passou a chamar-se Cochrane Collaboration (Chalmer et al, 1992). Essa nova concepção de atualização médica é denominada de Medicina baseada em Evidências, que passou a fazer a metanálise de artigos do "Medline", idôneos, de desenho correto, de ensaios randomizados controlados, mas já publicados na literatura.

Esses estudos são ótimos para professores universitários, mas têm divulgação difícil, chegando com dificuldade aos médicos práticos e até a algumas faculdades de Medicina com menos recursos. Os artigos são longos, leva muito tempo para ser publicados em CD-ROM (disco para computador), que são mais caros que as revistas impressas e saem somente quatro vezes por ano: 50 % desses trabalhos não são publicados em revistas indexadas porque são muito longos (Bombardier et al, 1997).

Ao invés desas revisões, cada especialidade de inúmeros países tem iniciado a publicação do guideline ou consenso para cada doença, sem citar númeors e bibliografias (portanto, mais acessíveis ao médico prático), que estão disponíveis na Internet, de graça (Canadiam Medical Association; American Medical Association , National Institutes of Health e o Cochrane Collaboration).

A Internet passou a ser a forma mais democrática e acessível da atualização médica, tanto para pesquisadores como para médicos em geral, porque o Medline passou a ser disponível para ambos, fornecendo o artigo em resumo ou na íntegra de todas as revistas indexadas.

Um prêmio Nobel de Medicina de 1980, por exemplo, não tinha tantas facilidades de pesquisa bibliográfica e de atualização como tem atualmente um médico brasileiro que mora em uma cidade com provedor de Internet, mesmo em um estado pobre.

Em um congresso recente, um desses médicos, exemplificando, preparou uma aula gastando R$100,00 (na compra de artigos do Medline, pagos pelo cartão de crédito na Internet e que lhe foram enviados pelo correio), que foi mais atualizada que a do docente universitário, que projetou os slides do serviço, evidentemente desatualizados.

Que sensacional revolução tecnológica! Os grossos volumes do "Index Medicus" e a dificuldade de localizar os artigos originais são substituídos por um "click", ao alcance de qualquer médico de pelo menos 200 grandes cidades brasileiras, atingindo 80% da população médica do país em condições iguais às dos acadêmicos. Com a implantação da nova telefonia no país e da Internet por TV a cabo, a difusão será muito maior, incluindo os congressos.

Novos problemas, entretanto, estão surgindo com as facilidades da Internet:

1º a home-page da Associação Médica americana acessada 50 % das vezes, diariamente, pelo público leigo que da mesma forma acessa o Medline. Isso significa que os médicos encontrarão, cada vez mais, pacientes melhor informados.

2º A Internet pode acabar no futuro com as revistas impressas, e o mesmo pode acontecer com os congressos das sociedades de especialidades. As quatro revistas semanais, já há um ano na Internet, não sentiram a perda na circulação.

3º Escola Paulista de Medicina - Unifesp começou em agosto de 1997 um curso de pós-graduação em Nutrição, para dez alunos, que "falavam" com o professor e entre si, através da Internet, sem estar na faculdade, a não ser para fazer exames. Isso significa que em breve não haverá faculdade de medicina de baixo nível, porque poderão fazer convênio com as de melhor padrão dos grandes centros. Educação médica à distância. A Internet, a custo ínfimo, permite dar-se aulas com imagens animada, vídeo, gráficos, fotografias coloridas, com o que as revistas e livros não têm condições de competir.

4º O atendimento médico dos convênios será influenciado pelos protocolos mais acessíveis na Internet e, com certeza, o "managed care" (cuidados médicos gerenciados) também virá para o Brasil, como já existe nos Estados Unidos. Isso fica para outra vez.

 

Referências

  1. Chalmers, I; Dickersin, K; Chalmer, TC (1992) - Getting to grips with Archie Cochrane agenda. British Medical Journal.305.768-788.

  2. Bombardier, C; Esmail, R; Nachemson, A (1997) - The Cochrane Collaboration.Spine.22:837-840.

  3. Tannenbaum, H et al (1996) - An evidence-based approach to prescribing NSAID in musculoskeletal disease: a Canadian consensus. Canadian Medical Association Journal.155:77-88.

  4. Silberg,MW; Lindberg, GDS, Musacchio, RA. (1997) - Assessing, controlling and assuring the quality of medical information on the Internet. JAMA.277:1244-1245.

  5. Widman,L & Togo,O (1997)- Request for medical advice from patients and families to health care providers who publish on the World Wide Web. Archives of Internal Medicine.157:209-212.

 

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Denise Razzouk e Giovanni Torello

Data da última modificação:23/08/00

http://www.priory.com/psych/knoplich.htm