Part of The
International Journal of Psychiatry - ISSN 1359 7620 - A trade mark of Priory Lodge
Education Ltd
N
National
Institutes of Health New´s :
Relato
informal sobre o encontro: Psicofarmacologia na prática - Atualização clínica e em
pesquisa de 1997.
Paulo Jácomo Negro, Jr.
Visiting Associate Clinical
Neuroendocrinology Branch, NIMH, NIH /Fellow - American Psychoanalytical Association
O NIMH faz um curso anual
de atualização em psicofarmacologia que tem uma excelente reputação não apenas por
abordar assuntos atuais de manejo psicofarmacológico, mas por também apontar tendências
recentes de pesquisa relevantes para os clínicos. O curso deste ano foi apresentado no
Hyatt Regency em Bethesda, e contou com a participação de diversos chefes de Branch e
pesquisadores de ponta para relatar de maneira informal o resultado de suas pesquisas e
uma atualização em suas respectivas áreas de atuação.
Fiquei em dúvida da
melhor maneira de transmitir a informação para os colegas no Brasil, tendo em vista o
vasto leque de assuntos abordados e a profundidade das discussões. Não observei um
encontro tão rico nem mesmo no congresso da Associação de Psiquiatria Americana (APA);
o relativo baixo número de participantes, a informalidade do encontro e a disposição
dos pesquisadores em responder quaisquer perguntas que fossem levantadas contribuiu para
criar um ambiente de certa intimidade e grande sofisticação psicofarmacológica.
Desta forma, o que eu
apresento este mês nada mais é que o meu caderno de notas do encontro. O texto está
mais telegráfico que o usual, mas aborda as diversas aulas apresentadas. É claro que o
apresentado não é exatamente o ministrado e passa pelo crivo do que considerei mais
relevante e interessante (inclusive em termos de dicas de manejo) e os colegas devem
considerar os limites deste tipo de apresentação (e usar bom senso no manejo de seus
pacientes pois a sugestões devem ser adaptadas para o contexto de casos específicos). Da
mesma forma, estas notas informais, ainda que baseadas nas apresentações do encontro
foram produzidas por mim e, portanto, quaisquer inexatidões devem ser creditadas ao meu
texto. Finalmente, minhas opiniões aqui representam apenas a minha pessoa e não o CNE
Branch ou o NIH.
O texto foi baseado nas
aulas:
|
Uma
nova perspectiva na patofisiologia de doenças neuropsiquiátricas na infância (Susan
Swedo, MD),
|
|
Psiquiatria
geriátrica (Trey Sunderland, MD),
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PTSD e distúrbios de ansiedade (Una D.
McCann, MD),
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ADHD e transtornos de tique da
infância à idade adulta (F. Xavier Castellanos, MD),
|
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Ciclos sobre ciclos: rítmos biológicos em distúrbio
bipolar com ciclagem rápida (Ellen Leibenluft, MD),
|
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Esteróides,
cérebro e distúrbios do humor relacionados ao eixo reprodutivo (David Rubinow, MD),
|
|
O neurologista como psiquiatra (Thomas Hyde,
MD, PhD),
|
|
Transtornos
alimentares (Walter H. Kaye, MD).
|
1)
Uma nova perspectiva na patofisiologia de doenças neuropsiquiátricas na infância
Tema: O que há de
novo na arena de pesquisa em transtorno obsessivo compulsivo de início precoce.
os critérios do DSM-IV
são diferentes em crianças e adultos: crianças não vêem obsessões/compulsões como
irracionais.
também não é
necessário um pensamento antes do comportamento compulsivo; o diagnóstico diferencial
entre transtorno obsessivo compulsivo e tiques pode ser particularmente difícil na
infância.
em algum momento 80%
terão sintomas relacionados à contaminação
É fundamental checar
todas as áreas (o tratamento comportamental de apenas uma pode levar a exacerbação de
outra em resposta ao aumento de ansiedade; é preciso abordar todas durante o tratamento):
- contaminação
- sexual (adolescência)
- agressão
- somático
- segurança (princ. re.pais)
- simetria e exatidão
Tratamento: |
Psicoterapia:
de suporte, mas importante -atrasos de desenvolvimento, demoralização e depressão
comuns. |
Terapia
familiar: útil -a família deve ser ativamente incluída; frequentemente os rituais
envolvem familiares, como perguntar e pedir que seja reassegurado. |
Terapia
comportamental: o tratamento de escolha -80-90% efetiva em crianças e adultos que
completam o tratamento; exposição + prevenção de resposta; intervenções cognitivas:
separar obsessões e compulsões de si, reconhecê-las como irracionais. |
Medicamentos,
como os SSRIs |
PANDAS:
Pediatric Autoimmune
Neuropsychiatric Disorders Associated with Strep. Infections.
Coréia de Sydenham como
modelo: desde o século XIX descrições de preocupações obsessivas em crianças com o
distúrbio; 75% com sintomas obsessivos compulsivos, 1/3 destes preenchendo critério para
TOC.
Infecção por
Estreptococo -> autoanticorpo contra Núcleos da Base
a) Evidência de
PANDAS:
- presença de movimentos coreiformes em 1/3
das crianças com TOC.
- subgrupo de TOC de início agudo,
remissão espontânea, ou curso episódico.
- pioras associadas a infecções por
estreptococo.
- 75% dos pacientes NIMH com coréia de
Sydenham tem início abrupto de sintomas obsessivos.
b) Critérios de
PANDAS:
- TOC e/ou transtorno de Tiques.
- Início pré-pubertal (3-12 anos ou Tanner
estágio 1 ou 2).
- Curso Episódico: reacaída/remissão (não
simples flutuação de sintomas).
- Associação com infecção GABHS - pode
deseancadear o quadro antes do título (ASO) subir
- Associação com anormalidades
neurológicas (ex. movimentos coreiformes)
Meninos 2.5-3: 1 Meninas
Idade média 9.5 anos
(TOC 7.5 anos; Tiques 6.5 anos)
Dividido primariamente em
TOC e Tiques (mas vários pacientes apresentam ambos); ADHD e ansiedade de separação
também presentes.
c) Apresentação
clínica:
- TOC
- Labilidade Emocional
- ADHD/Inquietude motora
- Ansiedade de Separação
- Distúrbios cognitivos
d) Na família de
crianças com PANDAS:
e) Profilaxia com
Penicilina?
- não há dados suficientes, considerando o
problema de resistência a antibióticos
- certamente não para diminuir sintomas,
mas para prevenir recaídas
- considerar processo infeccioso (cultura de
garganta, ASO) em situações de início abrupto, perda de resposta a medicação, piora
comportamental em uma criança bem ajustada (associação com piora cognitiva).
f) Evidências
preliminares de resposta a plasmaferese e EVIG
- plasmaferese: retira o sangue, centrifuga
e devolve sem o plasma
- EVIG: a imunoglobulina provém de um grupo
de 5000 doadores humanos -pré-tratada para diminuir risco de infecção
- apesar de preliminares e em poucos
pacientes, os resultados foram extremamente positivos.
- em 1 paciente: aumento da cabeça do
caudado quando sintomático; normalização com a melhora clínica (MRI).
Para encaminhar pacientes
com PANDAS no NIH:
301-4965373
pandas@codon.nih.gov
2) Psiquiatria
Geriátrica
Tema: O que fazer sobre o mal de
Alzheimer?
- pouco há alguns anos atrás, mas muito
mais agora e no próximo século.
A visão tradicional do mal de Alzheimer:
- tradicionalmente - ênfase no sistema
colinérgico, mas este não é o único sistema acometido, embora provavelmente seja o
mais sensível.
Depressão de início tardio:
- na ausência de história anterior,
possível pródromo de Alzheimer
Tratamento: |
Precursores: não
funcionam; ex. lecitina (além de não funcionar, faz o paciente cheirar a peixe e causa
náusea). |
Agonista pós-sináptico:
melhora memória, mas causa muita náusea, vômito, depressão. |
Inibidor da colinesterase:
tacrine (causa aumento de enzimas hepáticas e náusea), donezepil -melhora sintomática |
Tacrine + Reposição de Estrógeno (em
mulheres menopausadas): melhor do que aquelas que recebram apenas tacrine - porém ainda
não há dados prospectivos.
Donezepil:
- uma vez por dia (em contraste com tacrine
x 4/dia).
- 5mg/dia ou 10mg/dia: de modo geral não
há evidências de que 10mg/dia seja superior (embora isto possa ocorrer em um paciente
individualmente).
- efeito similar ao tacrine.
Inibidores da colinesterase:
- não impedem a progressão da doença.
- se retirados, há deterioração súbita
para o quadro sintomático esperado na ausência do tratamento.
- benefício sintomático equivalente à
progressão de 40 semanas.
Gingko Biloba (para
demência):
- extrato de Ginko Biloba 120mg/day.
- estudo multicêntrico
- n=309 pacientes.
- 52 semanas, distribuição aleatória,
controlado com placebo, paralelo.
- resultado: pequena diferença (1.4
pontos na escala em contraste com 4 pontos com inibidores da colinesterase).
- críticas: não dá para saber a dose real
da substância utilizada, ausência de correlação anatomopatológica adequada, aderência
ao estudo muito baixa (58% dos indivíduos desitiram do estudo).
St Johns Worth (para depressão):
- metanálise de 23 estudos aleatorizados.
- 1757 pacientes com depressão leve a
moderada (média da escala de Hamilton=20.4; em alguns estudos média Hamilton=12).
- dose do extrato: 300-1000mg/dia (hypericum
0.4-2.7mg/dia) - grande variabilidade.
- resultado: melhor que placebo, similar a
medicamentos.
- críticas: doses subterapêuticas de ATD
(ex. imipramina 10mg/dia, amitriptilina 30mg/dia, BDZ); vários estudos publicados mais de
uma vez (evidências: autores diferentes, mesmos pacientes e resultados), grande
variabilidade de dose.
- problemas: fotoxicidade em estudos com
animais; possible IMAO (risco de interaçào com SSRIs)
[Nota: aqui nos EUA, está havendo
uma febre de uso de Gingko Bilopa e St Johns Worth para depressão -muito cuidado com a
recomendação, existem problemas metodológicos importantes nos estudos. PJ]
Indometacina:
- evidências de benefício em estudo de
curto prazo.
- não se sabe se pode prevenir a doença.
- não há dados de longo prazo.
Vitamina E:
- evidências de benefício em um estudo de
2 anos.
- 75% dos pacientes fora de lar abrigado
após 2 anos de vit E.
- 2000 UI/dia (não se sabe a dose exata).
A visão do mal de
Alzheimer para o próximo século (especulativo):
( mal de Alzheimer com
doença da idade adulta)
3) PTSD
e distúrbios de ansiedade
Tema: tratamento de
transtornos de ansiedade.
PTSD (transtorno de
estresse pós-traumático)
Grupos de sintomas:
- reexperiência dos eventos traumáticos
- evitação/anestesia emocional
- aumento da excitabilidade (arousal)
Prevalência: 8-18% da
população
Comorbidade:
- outros transtornos de ansiedade (30-70%)
- transtornos afetivos (30-70%)
- abuso de substâncias (25-70%)
- somatização
Distúrbios clínicos
(impacto na progressão das doenças):
- cardíacos, GI, neurológicos, sono
- 57% dos pacientes em uma clínica de
cardiologia apresentaram transtorno de pânico.
- presença de transtorno de pânico ou
fobia: aumento da mortalidade por distúrbios cardiovasculares.
- 43% dos pacientes com transtorno de
pânico consideram sintomas gastrointestinais como seus piores problemas.
- comorbidade significante entre transtornos
de ansiedade e colon irritável.
- diagnóstico de transtorno de pânico
aumenta o risco de acidente cerebrovascular x2 (em comparação com ausência de
diagnóstico psiquiátrico).
Tratamento de PTSD
- mesmo em pacientes tratados com sucesso
através de diversas abordagens (ex. treinamento com inoculação de estresse,
dessentitização, hipnoterapia, terapia de base dinâmica), é bastante comum a presença
de sintomas residuais.
- apenas 9 estudos controlados com placebo
foram realizados.
- diversos estudos abertos.
Antidepressivos:
- SSRI -diminuem a anestesia emocional.
- IMAO -diminuem a reexperiência (ex.
flashbacks, pensamentos intrusivos) e insônia.
Anticonvulsivantes:
- CBZ - diminuição da reexperiência e da
hiperexcitabilidade.
- Ácido Valpróico - diminuição do
startle e da hipervigilância.
Transtorno de pânico
Tratamento:
- medicamentos.
- terapia cognitiva (reestruturação
cognitiva com correção de mal interpretações de sensações corpóreas como perigosas;
treinamento de respiração -diafragmática 8-10 resp/min) e comportamental (exposição
interoceptiva e situacional).
Sugestões clínicas:
História de Pânico;
nenhum tratamento anterior:
- SSRI
- se em crise: curso agudo de BDZ (de
preferência não alprazolam, devido ao potencial de dependência; possivelmente
clonazepam)
- Segunda opção: tricíclicos, IMAO
- tratamento adjuvante: buspirona (ansiedade
generalizada), atenolol (ansiedade de desempenho)
Fobia Social
- tratamento similar a sugerido para
transtorno de pânico.
- elucidação da distorção cognitiva
relacionada a situações sociais.
- pacientes tendem a mostrar mais efeitos
colaterais e mais inquietude motora secundários a medicamentos.
- a inquietude motora costuma durar 1-2
semanas cada vez que a dose da medicação aumenta.
- sugestões: educação a respeito dos
efeitos colaterais; começar com doses baixas (ou mesmo "ridiculamente" baixas,
como 1mg fluoxetine/dia.
Sugestões clínicas:
Primeira opção: SSRI
Segunda opção:
clonazepam, MAOI
Tratamento adjuvante:
buspirona, atenolol
Não esquecer:
- de diminuir consumo de cafeína (sodas,
chocolate, café)
- da higiene de sono: evitar deprivação
(festas, estudo, trabalho de turno).
Duração do tratamento:
- pelo menos 6 meses (1 ano se possível).
- no caso de fobia social: o curso do
transtorno é mais prolongado, frequentemente com início precoce -leva mais tempo para
exposição a situações sociais que em pacientes com transtorno de pânico + agorafobia
CCK e Ansiedade
- colecistoquinina.
- evidências anatômicas, farmacológicas e
clínicas do envolvimento do neuropeptídeo com comportamentos relacionados a ansiedade.
- estudo preliminar: infusão EV de
pentagastrina em pacientes com transtorno de pânico, fobia social, voluntários normais
-desencadeia ataques de pânico em 50% dos casos em pacientes com transtorno de pânico e
fobia social (sugere sobreposição patofisiológica entre pânico e fobia social).
rTMS (Repetitive
Transmagnetic Stimulation)
- a produção de campos
magnéticos no tecido nervoso produz atividade elétrica.
- lei de Faraday:
- rTMS em córtex motor produz movimento.
- rTMS na área de Broca inibe produção de
palavras.
- rTMS em depressão: 3 estudos abertos -
melhora com estimulação do córtex frontal esquerdo em depressão severa ou psicótica.
- estimulação com frequência alta
(10-20Hz) aumenta a atividade cerebral.
- estimulação com frequência baixa (¯
5Hz) diminui o metabolismo cerebral.
- em PTSD: evidências de aumento de
metabolismo cerebral em regiões límbicas e para límbicas direitas (provavelmente
relacionado a pensamentos intrusivos e flashbacks).
- estudo piloto: melhora significativa de 2
pacientes com PTSD com estimulação de frequência baixa de regiões frontais direitas
(na ausência de medicamentos).
4) ADHD transtornos de
tique da infância à idade
(attention-deficit/hyperactivity
disorder)
Tema: psicofarmacologia de ADHD
Frequente comorbidade em ADHD:
1) ADHD -> ODD (oppositional defiant
disorder) -> Transtorno de Conduta
- abuso de substâncias
- distúrbio de personalidade antisocial
2) Especulação: ADHD + mal regulação
afetiva -> distúrbio bipolar? eixo II ?
3) Distúrbios de aprendizado
4) Trantorno de Tique/TOC
Diagnóstico de ADHD em adultos:
- a presença de ADHD em descendentes é
útil.
- confirmar sintomas com família
(principalmente esposa/o).
- Wender-Utah Rating Scale (WURS) (também
conhecida como AQCC) -escalas ou testes de desempenho contínuo não são conclusivos, mas
ajudam a criar o contexto para o diagnóstico.
Especulação neurofarmacológica:
ADHD, com desatenção: - dopamina
pré-frontal?
ADHD, com hiperatividade: dopamina
mesencefálica + NE?
Tratamento:
- primeira opção: estimulantes
(independentemente da idade).
- não há tolerância para efeitos
cognitivos.
- exceto se a resposta ao primeiro
estimulante for excelente, mais de um deve ser experimentado
Metilfenidato
(ritalinaâ )
- o estimulante mais prescrito.
- T1/2 de excreção: 2h.
- ritalina SR (liberação lenta): a dose de
10mg não é equivalente à 10mg de ritalina padrão (equivalente a 7.5mg por 5-6h); útil
em adultos e adolescentes; 1 tablete de manhã e no almoço + suplemento com ritalina
padrão.
Dextroanfetamina
- 1mg equivale a 2mg de ritalina.
- efeitos cardiovasculares e simpáticos
robustos.
- evitar combinação com tricíclicos,
cuidado com descongestionantes nasais.
- duração do efeito: 3-5h.
- T1/2 de excreção: até 10 horas.
- evitar álcool: 1 caso de AVC com uso
combinado de dexedrina e cerveja.
- monitorar sono e apetite cuidadosamente.
- spansules: 1/3 da dose é liberada
imediatamente; o resto é de liberação lenta; duração do efeito: 6-9h
Adderalâ
- sal misto de anfetaminas.
- x1 ou x2/dia.
Pemoline
- mínimo risco de abuso.
- efeitos cardiovasculares mínimos.
- T1/2 de excreção 12h.
- menos útil para hiperatividade.
- potencialmente hepatotóxico: é
necessário monitorar enzimas hepáticas.
[Nota: usamos na clínica de
neuropsiquiatria da UTHSCSA em San Antonio para adultos com provável ADHD; o fato de ser
classe IV nos EUA (devido ao baixo risco de abuso) facilita muito a burocracia de
prescrição]
Tricíclicos
- mal tolerados em adolescentes.
- efetivos em vários adultos.
- não há rebote de estimulante com
diminuição dos níveis plasmáticos.
- x1 ou x2/dia
- possível combinação com dose baixa de
metilfenidato.
- efeitos colaterais frequentes em
crianças: constipação e taquicardia (menos se o aumento da dose for gradual).
- risco cardíaco em crianças: 6 mortes
descritas ( risco em crianças pré-púberes).
- atenção a interações medicamentosas
(ex. uma das mortes -criança de 9 anos em uso de 6mg/kg + dose baixa de tioridazina).
- monitoramento com ECG: risco se
QTc>450ms; PR>0.2sec; QRS>0.12sec
- considerar níveis plasmáticos.
- risco de overdose
Clonidina
- sedação e eficácia moderada.
- evitar descontinuidade abrupta (risco de
rebote hipertensivo).
- impressão clínica: ajuda a lidar com o
rebote por estimulante e insônia.
Guanfencina (tenexâ)
- agonista a 2.
- longa duração de ação.
- x1 ou x2/dia em adultos.
- menos sedação.
Buproprion: efetivo, mas
menos que metilfenidato.
Venlafaxine: relato de
casos.
Associação entre Tiques e ADHD: uso
de estimulante é possível -estimulantes causam tiques e a presença prévia do
distúrbio é tradicionalmente considerada uma contraindicação para o seu uso.
- começar com dose baixa e aumentar
devagar; em 1-2 semanas a exacerbação dos tiques tende a melhorar e a dose pode ser
aumentada novamente.
- metilfenidato é melhor que anfetaminas
neste contexto; cerca de 2/3 dos pacientes que recebem metilfenidato neste contexto
toleram o uso do medicamento.
- em situações de transtorno de tique
severo + ADHD, é possível utilizar um neuroléptico típico em associação com
metilfenidato
5)
Ciclos sobre ciclos:
Rítmos biológicos em distúrbio bipolar
com ciclagem rápida.
Tema: o papel dos rítmos
biológicos em distúrbio bipolar e em particular em ciclagem rápida (ênfase no sistema
circadiano; ciclo vigília-sono).
- os pacientes estudados pelo grupo
preenchem critério de ciclagem rápida (quatro ou mais episódios por ano)
- supostamente não fundamentalmente
diferentes dos demais bipolares; de fato pacientes com distúrbio bipolar podem entrar e
sair de situações de ciclagem rápida (seria possível extrapolar dados para a
população geral de bipolares)
Porque estudar rítmos
biológicos?
1) Observação clínica:
presença de instabilidade do ciclo de vigília-sono em distúrbio bipolar, que parece
manter correlações com humor (ex. correlações de diário de sono com humor: elação
com pouco sono, depressão com sono excessivo)
2) De fato, alterações
no rítmo vigília-sono não são apenas sintomas, mas se correlacionam com a
patofisiologia do distúrbio (ex. deprivação de sono desencadeando mania; ATD avançando
a fase de sono; sono durante a manhã após deprivação de sono na noite anterior é mais
provável causa de recaída que sono durante a tarde)
Dica: quando usar
escalas de humor, procure focar e educar o paciente sobre eutimia -escalas de humor +
escalas de sono são muito úteis no documentação prospectiva da resposta a medicamentos
(humor deve ser documentado pelo menos duas vezes: após acordar e antes de dormir);
mudanças de humor durante o sono tendem ir em direção à depressão e mudanças durante
o dia em direção oposta.
pacientes com
distúrbio bipolar tem ciclo vigília-sono mais instável que voluntários normais:
pacientes vão para a cama mais tarde e acordam também mais tarde
zeitgebers (sinais
ambientais recorrentes que sincronizam o ciclo) na manhã e horário de acordar de manhã:
papel mais significativo que zeitgebers à noite ou que o horário de dormir
(infelizmente, é mais fácil de manipular farmacologicamente o horário de dormir que o
horário de acordar; além disso simplesmente execer mais atividades durante a manhã
provê zeitgebers sociais e luz).
Melatonina:
Luz -> olhos ->
hipotálamo (núcleo supraquiasmático possui um relógio endógeno cujo gene já foi
identificado) -> sistema simpático; pineal -> melatonina
- a secreção se
relaciona com a habilidade de dormir (como uma "porta" para o sono); estudos
transversais sugerem que a secreção de melatonina é mais precoce em hipomania que em
depressão (adiantamento de fase)
alterações do humor
<-> alterações da duração e horário sono <-> mudança na exposição a
zeitgebers + mudança na secreção de melatonina (como um jet leg cronico)
Observações relativas a
tratamento de distúrbio bipolar:
1) Terapia de luz
- a idéia inicial era antecipar a curva de
melatonina (e sono): luz matinal ou melatonina exógena à noite (em contraste com atrasar
a curva com luz à noite ou melatonina exógena de manhã)
- entretanto exposição à luz faz a
ciclagem piorar
- (15-45min 10k luz - não necessariamente
muita luz; possível sensibilidade especial dos pacientes; como parte do protocolo, todos
os indivíduos foram avaliados antes e depois do tratamento por um oftalmologista; risco
teórico de dano ocular quando utilizado em combinação com medicamentos, inclusive
anticonvulsivantes)
- exposição à luz por volta do meio-dia
(12:00-13:00h): o resultado esperado era o mesmo que exposição durante a manhã, com uma
mudança de fase menos dramática (exposição durante a noite não produz efeito algum):
efetiva
2) Melatonina Exógena
- substância não regulada pelo governo
- problemas com a biodisponibilidade da
melatonina
- fraco efeito no rítmo circadiano, pouca
diferença (luz é bem mais potente)
- o problema pode ser a abstinência de
melatonina: um dos pacientes estudados passou a ter um ciclo livre (free run cycle)
depois de parar de usar a substância com deterioração do distúrbio bipolar
3) Noites prolongadas
- 12-14h de escuridão mostrou bons
resultados em pacientes com ciclagem rápida (estudo preliminar); um dos pacientes obteve
um resultado dramático (reproduz situação na natureza antes da luz elétrica)
- hipótese: deprivação crônica de
sono mais comum do que imaginado
- recomendação: pelo menos minimizar luz e
evitar atividades que ativem durante a noite (ex. TV)
Recaída no
pós-parto - possivelmente secundária a deprivação de sono
- importante abordar
o assunto em mulheres (e homens) em risco antes do parto
6)
Esteróides, Cérebro e Distúrbios do Humor Relacionados ao Eixo Reprodutivo
Tema: a complexidade do
eixo gonadal e dos distúrbios de humor.
- hormônios gonadais: da família dos
hormônios esteróides.
- muitos dos efeitos são específicos do
tecido alvo.
- em contraste com receptores de membrana,
receptores de esteróides estão dentro das células e funcionam diretamente como fatores
de transcrição.
- receptor de esteróide: 8 exons; a região
que se liga ao DNA é altamente homóloga entre espécies diferentes; existem múltiplas
formas, localizadas em diferentes regiões do cérebro; capazes de modular outros
receptores quando ativados ou não ativados pelo hormônio.
- a exposição do cérebro a hormônios
gonadais é provavelmente responsável pelo dimorfismo sexual do cérebro; o efeito é
organizacional e ocorre dentro de janelas críticas de desenvolvimento; muitos dos efeitos
incluem a capacidade de desenvolver posteriormente padrões de comportamento diferentes
quando exposto a esteróides novamente (o mesmo sinal resulta em respostas diferentes
posteriormente).
Síndrome Pré-Menstrual
(PMS)
- distúrbio de tempo,
não de sintomas (o que importa é o aparecimento dos sintomas durante a fase lútea e o
desaparecimento na fase folicular)
1) Existem sintomas
específicos da fase lútea em PMS?
Sim, 5% das mulheres em
idade reprodutiva mostram sintomas restritos a fase lútea.
2) Existem
diferenças fisiológicas (ex. padrão hormonal) relacionadas à fase lútea?
Não, não há
diferenças entre pacientes com PMS e controles.
3) A fase lútea é
essencial para a manifestação dos sintomas?
Não, quando a fase
lútea é eliminada através de antagonismo de progesterona, os sintomas aparecem da mesma
forma.
4) A eliminação da
ciclicidade ovariana previne PMS?
Sim, o uso de leuprolide
(peptídeo sintético, análogo ao GnRH -gonadotropin releasing hormone) abole a
ciclicidade e os sintomas de PMS.
5) Em pacientes cuja
supressão da ciclicidade ovariana eliminou PMS, a prescrição de estrógeno e
progesterona exógenos faz com que os sintomas retornem?
Sim, mas quando o mesmo
protocolo é aplicado em mulheres sem história de PMS, elas não desenvolvem sintomas (o
humor não é desestabilizado). Isto demonstra a importância do contexto no qual
hormônios são utilizados; provavelmente a sensibilidade à atividade hormonal de
mulheres com história a PMS é diferente daqueles sem o distúrbio.
Imagine o cérebro
como um transformador não linear - a resposta ao sinal é dependente do seu
contexto.
Depressão Perimenopausa:
- menopausa: 12 meses sem menstruação
(diagnóstico retrospectivo).
- sintomas proeminentes: irritabilidade,
preocupação, ansiedade (não os sintomas melancólicos clássicos).
- suplementação com estrógeno: bem
sucedida em eliminar sintomas de depressão em 35 mulheres em perimenopausa (estudo
preliminar); o bloqueio de receptor de serotonina reverte a resposta em 48 horas
(além disso, há evidências de melhora congitiva - memória verbal)
- em mulheres jovens que receberam
leuprolide e depois estrogeno: não foi observado melhora cognitiva
Depressão Puerperal:
Mulheres com história de
depressão puerperal receberam hormônios, subitamente suspensos (para simular
puerpério): isto desencadeou depressão, porém não em mulheres sem história pregressa
de depressão puerperal; sensibilidade diferente do eixo gonadal entre os grupos.
impossível pensar
sobre hormônios sem observar seu contexto fisiológico.
pense em polimorfismo
genético - alterações sutis na população que produzem susceptibilidade a doença.
em homens: reposição
de DHEA - ainda não se sabe se há chance aumentada de desenvolver cancer de próstrata.
7. O Neurologista como psiquiatra
Tratamento de Discinesia
Tardia:
a recomendação de
tentar parar uso de neuroléptico ou de trocar por um neuroléptico atípico (de
preferência clozapina) continua.
entretanto, em casos
que não possam fazer estas modificações farmacológicas, aumentar a dose de
neuroléptico é um procedimento que pode ser útil.
receptores
dopaminérgicos são saturáveis; é possível controlar os movimentos discinéticos com
aumentos relativamente pequenos na dose de neurolépticos; o surgimento de discinesia
de escape é menos frequente que o tradicionalmente descrito na literatura.
considerar sempre as
consequências legais; fazer uma documentação adequada no prontuário; utilizar
consentimento após informação de maneira formal.
8. Transtornos
Alimentares
Anorexia Nervosa (AN)/Bulimia Nervosa
(BN)
- comorbidade substancial (sintomas
exacerbados por mal nutrição) de eixo I e II.
- AN/BN provavelmente compartilham
vulnerabilidade biológica comum (transição entre subtipos é comum, associação em
estudo de gêmeos, diagnóstico de transtornos alimentares em famílias de pacientes
com AN -risco relativo 9:1).
- associação com sintomas
obsessivo-compulsivos: comportamentos de AN podem ser considerados obsessivos; a
necessidade de exatidão permanece mesmo após melhora do quadro alimentar.
- resposta a fluoxetina em AN é melhor com
doses maiores que as utilizadas em depressão (60mg/dia).
- resposta a fluoxetina em AN apenas com
recuperação PRÉVIA do peso (fluoxetina útil para prevenir recaídas após
recuperação de peso); também leva a diminuição de obsessividade, depressão,
ansiedade.
- a falha de fluoxetina em AN com baixo peso
provavelmente relacionada a diminuição do turnover de serotonina nesta circunstância
(supostamente, não há serotonina suficiente na fenda para que a inibição de sua
recaptura seja eficaz).
Denise Razzouk e Giovanni Torello
Data da
última modificação:23/08/00
http://www.priory.com/psych/paulnov.htm